domingo, 1 de fevereiro de 2009

Milk

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Pode parecer um lugar-comum escrever sobre o mais recente filme de Gus van Sant, mas vale a pena vê-lo e pensá-lo. Milk é um filme biográfico: retrata o percurso de Harvey Milk, um activista homossexual dos anos 70, que foi o primeiro a conseguir ser eleito para um cargo público nos Estados Unidos. Sean Penn dá à personagem um ar extremamente convincente e transmite uma força imensa ao filme. As nomeações para os Oscares (incluindo melhor filme, melhor realizador e melhor actor) são todas merecidas e o filme cai que nem ginjas neste fim de década turbulento.
De 1978 até 2009 podem ter mudado muitas coisas, sem dúvida nenhuma, mas todo quele discurso serôdio e homofóbico que vemos em Milk é (imagine-se) o mesmíssimo de hoje. Gus van Sant optou por utilizar imagens da época para ilustrar a campanha anti-homossexual da altura - nomeadamente a cantora Anita Bryant (que na altura chegou mesmo a ser atacada com uma tarte por um activista gay). A luta de Harvey Milk, que consegue ser eleito para a Câmara de San Francisco como representante do seu bairro ao fim de várias tentativas, é agora contra a célebre "Proposition 6" da Califórnia - que impediria homossexuais masculinos ou femininos de ensinarem nas escolas públicas da Califórnia - e o movimento "Save our Children" (lançado por Anita Bryant para tentar fazer o mesmo na Florida). Milk consegue levar a sua avante. Mesmo que isto lhe custe sacrifícios na sua vida pessoal e no limite acabe por lhe custar a vida.
Milk
não é um filme panfletário e seria muito fácil sê-lo. No filme vemos um homem lutar pelo direito a ser tratado de igual forma a todos os cidadãos dos EUA. Se os cidadãos homossexuais pagam os seus impostos e cumprem os seus deveres como todos os outros, porquê negar-lhes os direitos básicos que toda a gente pode usufruir? O direito à segurança, o direito a não ser descriminado no emprego, o direito a constituir família, o direito de poder andar na rua com a pessoa que ama sem ser insultado ou agredido... Foi uma longa caminhada, mas ainda não acabou. Por todo o lado, mesmo nos países onde os direitos homossexuais são apoiados por legislação, há muita coisa a fazer. Porque o importante não é só garantir que a lei protege todos os cidadãos, que os trata de maneira igual e que os respeita na sua individualidade. O importante é conseguir combater a ignorância sobre a homossexualidade, essa sim verdadeira incendiadora de ódios, verdadeira responsável pela intolerância, culpada pela incompreensão. Foi um pouco isso que Harvey Milk tentou fazer e é esse o seu legado: o respeito, a compreesão, a partilha, contra o ódio, a intolerância e a agressão. Trinta anos depois parece que há muito a aprender com ele. Mais do que nunca...

1 comentário:

João Roque disse...

Vi há anos o documentário sobre a sua vida e gostei muito, como estou certo que irei gostar muito deste filme; estou particularmente curioso à forma como a Academia de Hollywood irá reagir, mas penso que o òcar para Sean Penn estará assegurado...
Abraço.