sexta-feira, 21 de março de 2008

Única

Esta semana, devido a santíssimas razões, o Expresso sai mais cedo. Esta semana, a revista Única apresenta seis mulheres que assumem publicamente a sua homossexualidade. Uma delas, é a apresentadora do programa Curto-Circuito, da SIC Radical, Solange. É ela que surge neste vídeo que introduz a reportagem da revista.



Estas reportagens têm para mim sobretudo a função de fazer ver às pessoas que a homossexualidade não é assim tão "anormal" como elas pensam, mas gostava de ser vivo no dia em que isto não servir para vender revistas ou atrair a curiosidade de alguém. Também gostava de ver figuras públicas a assumirem a sua heterossexualidade já que não sei por que diabo se parte do princípio que são heterossexuais. Obviamente ao dizer que são heterossexuais as pessoas pensam «O que tenho eu a ver com isso?», mas se se disserem homossexuais trata-se de uma revelação apetitosa. Gostava de ver figuras públicas, independentemente da orientação sexual que tenham, a condenarem as discriminações abjectas que existem um pouco por todo o lado, a participarem na promoção de um clima de tolerância em Portugal. Podiam começar nos comentários dos leitores do Expresso. Quem quiser ver por que é que estas reportagens, apesar de tudo nunca são de menos, pode ler os comentários dos internautas. Reparem só neste.

«Na semana passada apanhei o metro com o meu filho. À nossa frente estavam dois rapazes de aspecto normal na casa dos 23 anos. Seria outro dia normal, não fosse um dos rapazes começar a apalpar o outro e passarem para os beijos. Esta situação passou-se no metro as 5 da tarde.
Eu não desprezo as pessoas homossexuais até conheço quem o seja, mas agora gostava de saber se vocês acham que eu e o meu filho de 7 anos devíamos ter assistido a tal exibição?
Isto para não referir as marchas de "orgulho gay" e seus festivais que são pagos com o dinheiro dos contribuintes.
Admiro a Solange pela sua frontalidade, e acho que as pessoas devem o seguir os seus sentimentos mas não devem impor as suas diferenças a quem não as tem».

É este tipo de pontos de vista que me enoja. Porque está aqui dissimulada a coisa mais reles que é o da superioridade e inferioridade (a ideia base dos nazis, lembram-se??). Senão reparem: este internauta pode passear com o filho e ver um um rapaz e uma rapariga aos beijos (que coisa tão normal!!), mas se forem dois rapazes ou duas raparigas (que coisa tão anormal!!!) trata-se de exibição. Ele refere-se à cena como chocante e imprópria para crianças de 7 anos (com certeza crianças que nesta idade são muito menos idiotas do que os adultos que um dia vão ser).
«Eu não desprezo as pessoas homossexuais até conheço quem o seja, mas...». O que é isto???? Eu não desprezo homossexuais, eu até tenho amigos que são, mas...????? Estas pessoas deviam assumir que são homofóbicas e pronto. Para que é que se armam em pessoas civilizadas? Metam os filhos em redomas e vivam na felicidade heterossexual "padronizada" para sempre!
Marchas de "orgulho gay" e festivais pagos com dinheiro de contribuintes??? Que palermice vem a ser esta? Só os heterossexuais é que pagam impostos? Daqui a pouco estou eu a dizer que gostava, enquanto contribuinte gay, de decidir que o dinheiro dos meus impostos não seja gasto com heterossexuais. O ridículo já chegou aqui?
É certo que estas reportagens não deviam existir, porque significaria que o tema não chamaria ninguém às revistas. Mas pelos vistos, estas reportagens deviam era multiplicar-se porque as pessoas em Portugal adoram fingir que são aquilo que desejariam ser: civilizadas, educadas, desenvolvidas e tolerantes. Talvez um dia...

1 comentário:

paulo disse...

A aceitação deste tipo de exposições públicas é cada vez mais natural, acho eu. Fico feliz que assim seja até porque neste caso se frisa imenso a ideia de normalidade, de igualdade nos sentimentos.
Quanto ao comentário: que enjoo e que nojo. Coitadinha da criancinha, traumatizada para todo o sempre!
Os "mas" que as pessoas apresentam só me fazem rir: tanta tolerância, abertura, etc. e depois agem assim, com "mas".
Enfim, talvez um dia, claro que sim!