Campanha canadiana pelo uso do preservativo
Já tinha aqui falado da revista ZERO e hoje continuo, nomeadamente no que toca a um tema que nunca é demasiadamente falado: o VIH/SIDA. Eduardo López-Collazo é um jovem investigador espanhol da área da imunologia, que aliás dirigiu uma equipa que fez promissoras descobertas na área da oncologia.
Ora, o Dr. López-Collazo escreveu, no último número da ZERO (n.º 103), um interessante artigo chamado: O VIH na nova era: Realidade versus Mitos. O artigo, que obviamente não vou poder traduzir aqui sem correr o risco de me processarem judicialmente, explica alguns dos mitos que, mesmo nos dias de hoje, ainda existem sobre o VIH. Na era da internet e das novas tecnologias, as pessoas dispõem hoje de um acesso fácil a uma enorme quantidade de informação sobre a SIDA e as suas consequências (embora nem toda ela seja fiável). Longe vão os tempos em que o VIH era associado unicamente aos homossexuais, sendo chamado de «cancro gay». Hoje sabe-se que o vírus não escolhe sexo, nem idade, nem raça... nem orientação sexual. Os fantásticos avanços na área da biologia molecular pertmitiram fabricar terapias retrovirais muito mais eficazes e prolongar a vida e a qualidade de vida dos doentes. Mas se o vírus parece não ter cara não é por isso que ele deixa de existir.
Hoje em dia, apesar do muito que já foi feito, há quase tudo por fazer. Falando de Portugal, a ignorância sobre o HIV é gritante e, falando com total conhecimento de causa, leva-me a supor uma certa mentalidade medieval por parte das pessoas. A esmagadora maioria dos Portugueses não sabe como se transmite o vírus da SIDA e - como se pôde concluir há poucos meses quando surgiram os mediáticos casos do cirurgião e do cozinheiro seropositivos - imaginam formas de transmissão anedóticas. Nunca é demais recordar que um inquérito levado a cabo em 2004 revelou que cerca de um terço dos Portugueses tem receio de partilhar uma refeição com um seropositivo. Não se pode dizer que algo está feito quando ainda há tanto para fazer.
Os jovens parecem ignorar todos os riscos. Isso pode dever-se a fábulas idiotas sobre o uso do preservativo ou ao desconhecimento dos riscos reais. O que é importa é que os jovens iniciam cada vez mais precocemente a sua vida sexual e não tentam sequer precaver-se. O preservativo é um método extremamente eficaz de previnir a transmissão do VIH por via sexual. Para além disso evita a transmissão de outras doenças sexualmente transmissíveis e as gravidezes indesejadas. Um aaprte para sublinhar que Portugal é o país da Europa ocidental com maior percentagem de mães adolescentes. Aliás, a mãe do preimeiro bebé português de 2008 tem... 16 anos. O que se passa com os jovens deste país? A pílula contraceptiva tem quase 50 anos, a pílula do dia seguinte também existe para o que der e vier, mas estes métodos NÃO PREVINEM a transmissão do VIH. O preservativo existe e É PARA SER USADO.
A SIDA está hoje muito longe de ser um problema ligado aos homossexuais, como alguns médicos idiotas vincularam (e ainda hoje vinculam) em órgãos de comunicação sexual. A SIDA tem que ser encarada como um problema sério e é necessário tomar medidas para travar o seu avanço, quer entre os jovens, quer entre os homossexuais, quer entre os toxicodepentes, etc. Os programas de troca de seringas parecem finalmente estar a dar resultados visíveis e ainda bem. O mesmo não se pode dizer das campanhas de prevenção do VIH. Estas campanhas parecem ser desenhadas por pessoas púdicas e preconceituosas porque de outra amneira não se percebe porque não entram pelas portas das salas de aula adentro... de TODAS as escolas. No interior do país é sabido que a informação não está tão acessível como nas cidades maiores e estes meios rurais/semi-rurais são muito propícios à invenção de patetices relativas a sexo e doenças sexualmente transmissíveis. Há grupos onde a comunicação deve ser feita de maneira especial e com grande proximidades. Os imigrantes, por exemplo.
É preciso também acabar de uma vez por todas com essa visão primitiva do sexo. As pessoas que desenham estas campanhas não podem esquecer-se de que há jovens homossexuais que não só são forçados a esconder a sua orientação sexual como também não vêem dirigidas a si nenhuma espécie de informação relativa à vida sexual e doenças sexualmente transmissíveis. As pessoas «iluminadas» que fazem as camapnhas têm que meter na cabeça que os jovens mudam muito frequentemente de parceiro sexual porque os namoros duram um fósforo. É urgente combatar todas as ideias estúpidas sobre sexo que as pessoas têm na cabeça. As ideias de que a SIDA é uma doença de gays, prostitutas e toxicodependentes ou que o sexo oral ou o coito interrompido não representam nenhum risco de transmissão do vírus são totalmente erradas. São mitos patetas e completamente injustificados. O mais grave é que estes mitos existem na cabeça de milhares ou milhões de pessoas no nosso país e são responsáveis por comportamentos que comportam um risco real.
O fenómeno da bissexualidade existe e tem que ser encarado, como encarada de forma séria tem que ser também a sexualidade dos idosos. Está na altura de fazer algo e parar de gastar rios de dinheiro unicamente para assistir ao aumento dos casos de VIH no nosso país.
Outro ponto que merece ser aqui falado é o do diagnóstico. Se não sabem ficam a saber que o diagnóstico é GRATUITO, ANÓNIMO e CONFIDENCIAL. Pode ser feito nos Centros de Aconselhamento e Detecção espalhados pelo país. Quem tiver dúvidas faça o teste. Outro mito é o de que é preciso esperar pelo menos três meses para saber a verdade. Isso é FALSO. Este limite de três meses refere-se ao chamado «período de janela imunológica» dentro do qual o nosso organismo vai produzir anticorpos contra o VIH que vão ser detectados no sangue quando o teste é realizado. Todavia, as infecções recentes, de alguns dias, podem ser detectadas com recurso à técnica de PCR (Polymerase Chain Reaction). Trata-se uma técnica muito usada em biologia molecular, extrememente sensível, e que se baseia na amplificação de amostras. Serve, entre outras coisas, para detectar patogénios como os vírus da hepatites, do papiloma humano, etc. Os anticorpos que são gerados no nosso organismo são detectáveis por um outro teste chamado ELISA (Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay). Este teste detecta anticorpos específicos no soro humano. Este é o teste de primeira linha no diagnóstico da infecção pelo HIV. Até à terceira geração, estes testes só detectavam a presença de anticorpos (IgG e IgM) três ou quatro semanas após o contacto, contudo, os testes de quarta geração são capazes de detectar tanto anticorpos como um dos antígenos do HIV (a proteína P24). Isto levou à diminuição do tal «período de janela imunológica», que pode agora ser de apenas duas semanas. No seu artigo, o Dr. López-Collazo refere-se (e bem) à desinformação que existe no seio dos profissionais de saúde, e para os que ainda não estão convencidos a fazer o teste, deixa uma pergunta para reflectir: se fossem precisos três meses para saber se há infecção, porque não se guardam as amostras de sangue doadas durante este período para depois se ter a certeza?
Voltarei a falar deste tema vezes sem conta. Espero que isto seja lido muitas vezes, espero que seja possível informar muita gente. Peço desculpa se deixei muitas pontas soltas. Vou pegar em todas elas muito em breve. Nomeadamente nas formas de contágio, como é claro.
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